domingo, 30 de dezembro de 2007

Cazuza


Dizem que eu tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
E me fingir de burro
Pra você sobressair

Dizem que tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais
Do que se tem pra receber
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

Dizem que tô louco
E falam pro meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer
Que a dor no fundo esconde
Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

[Minha flor, meu bebê - Cazuza]

Oswaldo Montenegro

"A nossa primeira antena é a palavra
Que amplia a verdade que assusta
E a gente repete que quer mais não busca
E de um modo abstrato se ilude que fez"

[Quebra-Cabeça sem Luz - Oswaldo Montenegro]


Oswaldo Montenegro é um músico brasileiro considerado
como "chato" por muitos(tendo sido chamado por odiadores
de "Kenny G" como o "Kenny G brasileiro" e por odiadores
de "Rick Wakeman" como "Rick Wakeman brasileiro").
Ainda assim, continuo a gostar dele.
Foi-me (não ele, mas a sua música) apresentado
durante a minha infância por meu pai. Ainda hoje gosto
de suas músicas, apesar de raramente as ouvir.
Mas peguei-me a ouvir hoje, e ao cantarolar uma das músicas,
apercebi-me de quão profundas são algumas das suas músicas.

Reflitam sobre os últimos 2 versos.

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Ao Som de: José Afonso - Coro da Primavera

O Mercador de Veneza




To bait fish withal: if it will feed nothing else, it will
feed my revenge. He hath disgrac’d me and hind’red me half a
million; laugh’d at my losses, mock’d at my gains, scorned my
nation, thwarted my bargains, cooled my friends, heated mine
enemies. And what’s his reason? I am a Jew. Hath not a Jew eyes?
Hath not a Jew hands, organs, dimensions, senses, affections,
passions, fed with the same food, hurt with the same weapons,
subject to the same diseases, healed by the same means, warmed
and cooled by the same winter and summer, as a Christian is? If
you prick us, do we not bleed? If you tickle us, do we not laugh?
If you poison us, do we not die? And if you wrong us, shall we
not revenge? If we are like you in the rest, we will resemble you
in that. If a Jew wrong a Christian, what is his humility?
Revenge. If a Christian wrong a Jew, what should his sufferance
be by Christian example? Why, revenge. The villainy you teach me
I will execute; and it shall go hard but I will better the
instruction.

[Shylock - William Shakespeare's The Merchant of Venice]

Tradução (de minha autoria, com ajuda do site Rosacruz )

Servirá de engodo na minha linha de pesca.
Se nada mais alimentar,
Alimentará minha vingança.
Cobriu-me de desprezo,e impediu-me de ganhar meio milhão.
Riu-se das minhas perdas,Desdenhou-se dos meus ganhos,
Desconsiderou minha nação,Opôs-se aos meus negócios,
Desanimou os meus amigos,Inflamou meus inimigos,
e por quê?
Porque eu sou um Judeu!

Um Judeu não tem olhos? Um Judeu não tem mãos?
Órgãos, Dimensões, Sentidos,
Afeições, Sentimentos?
Não é Alimentado da mesma comida,Ferido pelas mesmas armas,
Sujeito às mesmas doenças,Curado pelos mesmos remédios,
Aquecido e gelado, pelo mesmo Inverno e Verão,
Que um cristão?

Se nos picarem, Não sangramos? Se nos fizerem cócegas, Não rimos?
Se nos envenenarem, Não morremos?e se nos desonram,Não devemos nos vingar?
Se somos como vós em tudo, somos nisso também.
Se um Judeu desonra um Cristão,
Que faz o Cristão?
Vinga-se.
Se um Cristão desonra um Judeu, O que deverá o Cristão sofrer,
de acordo com o seu próprio exemplo?
Vingança.
A maldade que ensinas-me,Colocarei em prática.
Vai ser difícil, mas eu superarei o mestre.



Este monólogo, é tirado de um livro de Shakespeare ("The Merchant of Venice"), que virou filme (em 2004, e entra até o Al Pacino).
Vi esse filme hoje (29/12), e foi este monólogo a parte que mais gostei. Não só pela interpretação do Al Pacino (que eu não gostei dos detalhes das mãos), mas principalmente pelo texto em si.

Recomendo à todos o Filme que é ótimo de todo. Quer na história, quer no texto, quer nas actuações dos actores, quer nos figurinos e quer também, na fotografia.

Como bonus, deixo aqui o monólogo, extraído do filme, aonde o judeu Shylock é interpretado por Al Pacino, note-se que a legendagem é de minha autoria, e a tradução é a mesma que foi postada acima



sábado, 29 de dezembro de 2007

Bicicletas




Há pouco menos de um ano eu não sabia de andar de bicicleta.
Há pouco mais de 5 meses, eu não andava de bicicleta habitualmente...

Quão triste eu era e não sabia. Andar de bicicleta, um dos maiores prazeres que alguem pode ter, e era por mim desconhecido.

Se és daqueles que sempre tiveram medo de aprender e estão numa idade em que têm vergonha de fazê-lo, tenham antes vergonha em nunca vir a aprender, do que vergonha em aprendê-lo "tardiamente".

Tive umas boas quedas ao aprender a andar, e cheguei a rachar a tela do meu telemóvel. Cheguei a ver putos a andar de bicicleta e a rirem de mim que tinha dificuldades. Aliás, os meus glúteos doem às vezes, ainda hoje.

"Se valeu a pena?
Tudo vale apena..."

Hoje, não tem nada mais prazeroso a se fazer logo de manhã do que ir dar uma volta de bicicleta ouvindo música no mp3.

E foi o que eu fiz hoje de manhã,
e foi o que me motivou a escrever para vocês
todos.


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Ao Som de: JOSE AFONSO - Jara-ronda Das Mafarricas

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Intercâmbio Cultural - Brasil e Portugal

Ontem de madrugada, resolvi fazer algo que já queria fazer há tempos...
Sacar (Baixar) à net, algumas músicas (discos, preferencialmente) de Zeca Afonso.
Para quem não sabe (provavelmente os Brasileiros), Zeca Afonso foi um músico da chamada música de Protesto, em Portugal durante a época da ditadura Salazarista (Sim, no século passado Portugal também foi uma ditadura durante parte do século passado). É tido como um dos maiores (às vezes como o maior) representante do gênero em Portugal, e é tido, no geral, como um dos melhores músicos portugueses.

Um brasileiro a ouvir Música de protesto de um Portugues em plena democracia?
Estranho, não?
Nem tanto...

Ponto 1:A qualidade da música de Protesto não morre com o fim da ditadura, a sonoridade continua a ser boa e a ter belas letras.

Ponto 2:Ainda que tenham sido escritas em época de ditadura, algumas letras ainda hoje são actuais (talvez até mais actuais do que na época em que foram escritas), devido à esta pseudo-despotismo-travestido-de-democracia em que vivemos.

E já que a idéia, do blog, é a aquisição/desenvolvimento de cultura, falo aqui também de um dos maiores representantes da Música de Intervenção no Brasil, Chico Buarque. Mais facil de ser conhecido pelos portugueses, do que Zeca Afonso pelos brasileiros, suponho que muitos por portugueses desconheçam o facto de ele, Chico Buarque, ter sido representante de tal vertente musical (capaz, aliás, que nem alguns brasileiros saibam).

Através de músicas como "Cálice" e "Apesar de você" Chico Buarque atacava os militares e incentivava o espírito de revolta por parte dos brasileiros.

Assim, convido todos meus amigos a ouvirem músicas de Protesto.
Convido os brasileiros a ouvirem Zeca Afonso e os portugueses a ouvirem Chico Buarque.
Mas convido também os portugueses a ouvirem Zeca Afonso e os brasileiros a ouvirem Chico Buarque, pois ambos artistas de tamanha qualidade são, às vezes, posto de lado por seus conterrâneos e admirados por outrem.

Para facilitar vossas vidas, deixo aqui, para que façam o download, um disco de cada.


Zeca Afonso - Cantigas de Maio

Chico Buarque - Construção

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Ao Som de: 09 Verdes são os campos

Pintura - Van Gogh (Par de Botas)

Pintura... uma arte por muitos rejeitada, ou vulgarizada.
Ao olharem para este quadro aqui postado, não limitem-se a ver o óbvio, tentem ver algo mais, tentem ir além da imagem, tentem atingir o conteúdo. Enfim, reflitam

Em homenagem à este dia de natal, deixo aqui este par de botas de Van Gogh, que representam todo esforço feito por nós para chegar até aqui.





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Ao Som de: Zeca Afonso - Zeca Afonso - Filhos Da Madrugada

domingo, 23 de dezembro de 2007

A fórmula (matemática) da felicidade

Estive a discutir com a Joana sobre este texto e apesar de achar muito vago, resolvi postar, para que todos vocês repensem na sua forma de viver.
Sim, a vida é imprecisa e tentar 'matematicá-la', vai resultar em falha óbvia.
Porém, esta fórmula serve para mostrar-vos o caminho a seguir (ou parte dele), e para mostrar que as coisas não são tão complicadas quanto parecem

Note-se que a fórmula é bastante pretensiosa, e não contempla certos aspectos como, por exemplo, a Rotina.

A Fórmula (matemática) da Felicidade - Rodrigo Alencar

Felicidade (Tu) = Tu * Vida
Vida = 2 *Tentativas/Infelicidades
Tentar = 3*Acertos + 2*Erros
Infelicidade = Desistencias + Fugas + Medos + Arrependimentos
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Ao Som de: Quim Barreiros - O Sorveteiro

sábado, 22 de dezembro de 2007

Batata

Tendo dado início à producção de poesia, eu via-me querendo escrever mais.
Comecei então a me indagar o porque de o apelido/alcunha [br/pt] da minha, na época, mais nova amiga, ser Batata.
então, acabei por escrever este poema, o qual foi vandalizado pelos comuns que acham que se refere somente à batata enquanto comida e não percebem que na verdade, como qualquer coisa, a batata tem inúmeras facetas/interpretações

Batata - Rodrigo Alencar

Batata
Frita, Assada
cozida ou dorada
tantas formas de comer

mas não é este o seu limite
para o médico, é a da perna
para o filósofo, uma questão existencial,
entre o sabor e sua origem
para o agricultor... é apenas o seu pão
e pro amante é fonte de paixão
mas pra mim, só se for depois das oito

Frita, assada
cozida, dorada
corpo, mente
vida, gente

mas no fim...
é só batata

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Ao Som de: Elis Regina - Menino das Laranjas [The Orange Selling Boy]

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Crónica por um Amigo

Ao mostrar o meu recém criado blog à um amigo, não surpreso fiquei, em ter recebido como resposta (pralém de seu comentário), o link para o dele.
Surpreso, de facto, fiquei ao ler o texto.
Uma obra prima fenomenal.

ainda que o título seja "12 de outubro" (dia das crianças no Brasil), o texto é válido para a época do natal também.

12 de Outubro - Rodrigo Luciani

Qual foi a criança que não ficou puta com seus pais nessa data?
Certamente que não fui eu.

É sério. Desde que me entendo por gente, lembro dos dias Da Criança que passei, e não foram só esses. Podem ser incluídos Natal e Aniversário. Incluídos no quê? Nos dias em que sempre fiquei puto.

Puto com o quê? Porra, pára de fingir que nunca foi criança, e em um dos poucos dias em que você espera anciosamente, aguarda como se fosse perdê-lo a cada noite, esperando o novo Super-Ultra-Mega-Power-High-Boneco-Articulado-Do-Batman-Com-Batmóvel, acorda nessa manhã, encontra aquela sua tia esquisitona que sempre falou coisas estranhas na sua presença e ganha... uma camiseta dez números menor que o que você veste. E a desculpa é aquela "Ah, mas você cresceu tanto..."

É chato isso.

É claro que você sempre teve mais tralhas do que o necessário no seu quarto, mas pô, a indústria voltada para os produtos infantis sempre lança algo totalmente revolucionário a cada semana, e se algum amigo conseguir o Super-Ultra-Mega-Power-High-Boneco-Articulado-Do-Batman-Com-Batmóvel dois minutos antes de você, você é um fracassado.

Isso não tem preço. Você vai passar dois dias, dois dias!, com um boneco, tempo suficiente para zoar seus colegas que não o possuem. Mas, como eles são putamente invejosos, vão comprar o mesmo boneco. Daí você tem que esperar o próximo Aniversário/Natal/Dia das Crianças para ter o novo modelo, que voa e faz exorcismos. Sua esperança está em cada centímetro de papel de embrulho vermelho caído ao chão, em que cada caixa revela apenas roupas, roupas e mais roupas.

Seu sonho está quase no chão, quando chega o seu Padrinho. O único que entende sua necessidade de se provar diante seus colegas. É aquele que lhe dá dinheiro e diz "Você já bastante crescido, então é melhor comprar o que achar melhor". Um sorriso brilha em seu rosto, mas é feriado, e você não pode sair para comprar o Super-Ultra-Mega-Power-High-Boneco-Articulado-Do-Batman-Com-Batmóvel na mesma hora.

Você precisa esperar. E é essa espera o tempo fatal. No dia seguinte, sua mãe agarra seu braço e leva você até uma loja, onde compra... mais roupas.

Ignorando todos os lamentos, todas os argumentos que você conseguiu pensar em menos tempo, e transforma o Super-Ultra-Mega-Power-High-Boneco-Articulado-Do-Batman-Com-Batmóvel em uma jaqueta que lembra um tecido usado para fazer guarda-chuvas. A pior parte é se ela enfia você dentro daquilo e manda pra escola.

Então, quado todas as suas esperanças já foram pro ralo, você encontra seus amigos, e vê que todos eles estão com jaquetas semelhantes e seus derivados. Nenhum deles conseguiu o Super-Ultra-Mega-Power-High-Boneco-Articulado-Do-Batman-Com-Batmóvel. É nessa hora que você fica puto com eles, porque todos eles decidiram comprar uma jaqueta igual a sua.

Hunf, essas crianças invejosas...



identificou-se com o texto? sim? eu também...
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Ao Som de: Gonzaguinha - Grito De Alerta

Cliché poético

Um dos maiores Clichés da poesia, é citar Vinícius de Moraes.
Mas eu não me importo.
Maior ainda é o cliché, caso a citação seja a que eu vou fazer agora.

Soneto de Fidelidade - Vinícius de Moraes


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Como bonus, deixo a versão deste poema em video e audio, sendo declamada pelo próprio Vinícius



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Ao Som de: Gonzaguinha - Um Homem Tambem Chora (Guerreiro Menino)

Ave Polga

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Ao Som de: Gonzaguinha - Comecaria Tudo Outra VezDou assim, início as minhas postagens com conteúdos reais.

Alguns, podem chamar-me tolo por gostar de futebol.
Outros, chamam-me tolo por gostar de poesia.
Muitos, chamarão-me tolo por fazer poesia sobre futebol.

Tolice ou não, até o mestre já fez poesia sobre futebol.


Foi este poema, que me lançou na arte. Foi este, que 'bolificou' (isto é, fez um bolo) a minha vontade em escrever, o meu gosto pro escrever e pela poesia.

Ave Polga
By Rodrigo Alencar

Os louros aos mágicos
é o que é feito.
mas a ti pretendo...
dar-te o que é teu por direito

no meio de tantos magos,
és tu, ó glorioso xerife,
és tu, quem com toda sua sapiencia
e força física,
impõe-te e ofuscas-lhes as mágicas

Há quem diga,
que de mágico nada tens
mas pra mim, o mago verdadeiro...
és tu
pois mais difícil que fazer
é, na verdade, desfazer
e isto... fazes como ninguém

Louvado seja Polga
por toda segurança ao Leão prestada
e por toda que prestada ainda há de ser


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Ao Som de: Gonzaguinha - O Que É, O Que É

Farewell Darknesses

Boas tardes.
A todos que estão a ler (que deve ser ninguém), estou a dar início a um blog, 5 anos depois do ultimo que tentei (numa época em que não tinha conteúdo para manter um).
Neste blog, pretendo expor a arte. Minha - textos e poesia - e a de outrem, sejam textos, músicas, vídeos ou desenhos/pinturas.

Assim, dou início a este Sarau, e espero que todos que leêm este post, tornem-se leitores habituais.
Notas a serem levadas em conta:
1 - Não sejam preconceituosos, experimentem de tudo (culturalmente falando)
2 - As postagens nem sempre serão em português, mas este nunca será posto de lado


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Ao Som de: Embrace - Gravity (Enviado pela Ana)